Acordei com saudade da minha vida
As vezes eu acordo assim, meio sei lá
Amarga, alheia, ausente
Sem a minha presença
Como num descolamento de almas
Em relação ao corpo e a existência
E esse estranhamento se perpetua durante dias
E o corpo se ressente de tudo o que não há
Ou tudo o que já foi
E assim me perco entre dias e noites
Idas e vindas rumo a lugar algum
Que é justamente para onde estou seguindo
Há muito tempo
E a vida segue
De maneira desordenada
Com saudades
De um dia ter tido
Ter sido
Ter vivido
E agora
Escrava dos desejos alheios
Senhora sem destino
Que pede autorização para existir
E existe em silêncio
Pois sua presença não é comemorada
E não deve ser notada
Mas pede autorização
Ao seu senhor
Para poder se movimentar
E nesta autorização
Se perde de si
Haverá um dia o retorno a vida?